Não sabia muito bem por onde começar. Era notória a desordem e necessidade de limpeza e arrumação. Parecia que uma grande tempestade tinha arrancado as portadas e tinha invadido aquele espaço para à sua passagem deitar tudo ao chão depois de algumas voltas loucas pelo ar. Tudo espalhado. Algumas quebras importantes. Não se percebia muito bem o que teria acontecido. Poderia ter sido a tempestade, um tremor de terra, um assalto, simplesmente vandalismo. Mais importante do que perceber o quê e porquê, achou que seria devolver a ordem. De pé, à entrada, limitava-se a observar. Estava escuro; era difícil perceber a verdadeira extensão dos estragos. Percebia-se que não seria tarefa rápida ou fácil... Precisou de mais uns momentos para apreciar o cenário e decidir por onde atacar primeiro. Sabia que seria tarefa que requeria um trabalho só seu. Não podia pedir a alguém que lhe devolvesse uma ordem que não fosse a sua. Por mais uns instantes ali ficou a olhar, como que a estudar cada pedaço do estrago feito. Não sabia muito bem como, mas sabia que para lá da dificuldade conseguiria devolver-lhe a ordem e harmonia...
É uma espécie de retiro. Sinto-o como se tivesse um tecto baixo. Talvez com algum material que o aconchegue, aqueça... Talvez tivesse uma pequena porta. Daquelas que só perpassamos agachados, qual criança em brincadeira de fim de tarde na sua casa de bonecas... Estou encostada às almofadas. Pernas estendidas, este é o meu momento. Toca uma música que me estimula os sentidos. O chá já acabou. Tenho o meu livro novo na mão, mas não é para já. A luz é ténue, suave. Reflecte no meu canto laranja... Chove! Gotas de água correm vidro abaixo numa dança sem fim, sem sentido, sem sabor, sem espera...
Serenidade! Pode dizer-se que o relógio parou, o coração não bate, o peito não se eleva. Sossego! Uma viola toca notas soltas, harmoniosas, suaves, fluidas... Paz de espírito! O lápis mal afiado corre papel afora, podia dizer que sem sentido, sem ritmo, sem cuidado com a forma ou conteúdo... Simplesmente me viro pa dentro. Estar comigo própria. Sentir o bater do meu coração. Ouvir pensamentos que voam pelo disparate e pela patetice. Uma pausa no turbilhão. Sorrisos que dançam ao sabor da música que se alegra... A viola canta só para mim. É só minha. Numa melodia inigualável simplesmente expurga tudo o que de impuro mancha a minha emoção. Limpa! Alma limpa, lavada, leve... em paz... Carrego no botão do repeat, escorrego pelas almofadas e puxo do meu livro novo...
Arrepiou-se! Talvez fosse o ar condicionado... Sempre descontrolado... Ora frio, ora calor. Nunca se sabia muito bem o que vestir...
Sabia-lhe bem sentir o toque suave do longo cabelo nas partes descobertas das suas costas... Nos ombros a céu aberto. Um decote simpático também deixava que uma ou outra madeixa lhe beijasse a pele. Gostava do toque.
Aliado ao toque uma memória olfativa... Quase podia imaginar-se noutro lugar.
Numa luta contra o próprio eu, tentava não se deixar levar pelas sensações... pelas emoções... Sabia que nenhuma delas alimentaria sentimentos, se levadas a extremos incalculados...
Pretendia ponderar... sempre agir com a razão... Mas era, no fundo, uma pessoa de emoções... E até gostava... Tal como sorrira de manhã cedo, ao receber o Bom Dia de um simpático pardal que cantarolava alegremente, gostava de sorrir do nada. Por um reflexo de raio solar. Por um cheiro de gaivota a planar. Por um olhar longínquo mas profundo. Por um toque de madeixa num peito desnudado.
Gostava de se saber emocional. Mas um pouco de razão não fazia mal... Um pouco mais de pensamento comedido pelo respeito pelo espaço de outrém... Gostava de sentir os picos de adrenalina, o coração a bater, o suor a espreitar, as mãos a tremer, pupilas a dilatar... Gostava! Sentia-se viva. Sentia-se humana. Sentia-se feliz... Gostava de repetir vezes sem conta que a felicidade se constrói das pequenas coisas. Sorria constantemente sem razão aparente. E esses sorrisos tornavam-na numa pessoa alegre, bem-disposta... "Sorriso sempre pronto", já lhe tinham dito. "Inspirador", também ouviu... "Obrigas a que te sorriam de volta"...
Era algo natural. Como tudo o que fazia... Levada pelas tais das emoções que às vezes gostava de controlar um pouco mais, era considerada uma pessoa espontânea...
Gostava de ser emocional, de sorrir sem razão, de fazer elogios inesperados, de abraçar... Gostava! Gostava de gerar sorrisos em lábios alheios. De ver os olhos brilhar. De sentir emoção no ar.... Gostava!
Gostaria também, de quando em vez, de estar certa do seu espaço... De não se sentir imensa. Demasiado. Gostava! Gostava de estar certa de fazer sempre o melhor... não só para ela... Era egoísta, sim, mas não a esse ponto. Queria estar bem, sorrir, ser feliz... Mas mais que isso, gostava de sentir que era capaz de gerar um sorriso inesperado, de proporcionar um momento de felicidade incalculada, de despertar o gosto por uma felicidade mais comum, mais do dia-a-dia, mais regular, mais simples, mais real, mais palpável, mais presente, mais feliz...
Vindo do nada disse o que sentia. O que queria; o que lhe ía na alma e no coração. Talvez pudesse ser mais clara. Achava que não. Saiu de repente qual fonte de que jorra uma água límpida e fresca. Era uma mensagem pura. Talvez mascarada com a máscara da pouca subtileza que lhe restava... Do receio de ser agressiva ou invasiva. Disse-o e tentou sentir-se aliviada por isso. Mas não sentiu. Pelo contrário! Faltava-lhe a presença, a expressão, o olhar, o bater de coração, a voz embargada. Faltou-lhe ver reacção. Faltou-lhe o que continuava a faltar. Saber. Queria ter nas mãos um poder especial. Queria entrar na sua cabeça, no seu peito e sentir. Perceber. Queria querer diferente...Vindo do nada disse o que sentia. Partilhou-o! Pode ter sido mera comunicação disfarçada no etéreo e mundano que fez transparecer. Mas sabia que a máscara era apenas parcial. Sabia que havia passado mais do que havia dito. Havia um olhar que não a largava. Não a deixava sossegar, esquecer... Repetia-se uma e outra vez... Curto! Sempre curto, mas nem por isso com falta de intensidade. Não! Era um olhar que percorria a sua alma desnudada. Talvez procurasse algo. Talvez um defeito para fugir de alma ferida. Talvez algo mais intenso, disfarçado, mascarado por palavras vãs...Vindo do nada disse o que sentia! Esperava algo de volta, claro. Mas sabia-se de esperança louca... Sabia que era monólogo. Sabia que se limitaria a partilhar algo de muito seu... Não mais! Queria não precisar de o fazer. Queria afastar-se. Queria olhar com a lente da distância e da racionalidade. Queria não apertar, não agir, não falar, não procurar...Sabia que o destino do que dizia era cinzento. Sem cor, sem brilho, sem definição. Nem de perto preto ou branco. Sabia que podia acinzentar ainda mais, mas num momento egoísta agiu. Fê-lo! Vindo do nada disse o que sentia! e por breves segundos sentiu alívio. Sabia que não faria bem a ninguém. Sabia que não tinha esse direito. Mas tinha a liberdade e fê-lo! Sabia que até podia ter efeito contrário ao desejado... Mas aquele aperto no peito... aquela respiração acelerada... aqueles tremores inexplicados, descontextualizados...Vindo do nada disse o que sentia! Secretamente e sem sequer o admitir para si própria, esperava resposta... Esperava sobretudo que a mensagem não transmitida, chegasse... Esperava secretamente que o desfecho fosse diferente do expectável. Esperava perseverança. Esperava sonho. Esperava vida. Esperava coragem e determinação. Esperava clareza de espírito e aventura de coração. Esperava ambição. Esperava decisão. Esperava alegria no olhar. Esperava genuinidade e abertura para tal. Esperava intensidade nos sorrisos dos olhares. Esperava crescimento... Esperava espera e esperar...Vindo do nada disse o que sentia!
Pela janela entra uma luz fim-de-tarde... Porta escancarada, entram cheiros de Primavera... O mar ao longe marca presença somente subtil. Está lá, eu sei... mas mantém a discrição... O meu canto laranja está preparado para me receber. Almofadas aconchegadas, aparelhagem a postos, livro de poesia, revistas de decoração, uma tela, pincel e tintas... chávena de chá a fazer... O pôr-do-sol... Aquela altura depois... em que ainda há luz, mas já não sol... Em que a noite chega. Em que algo morre e algo se renova. Em que tudo se prepara para o sossego... A primeira estrela que surge num céu azul forte... Lembranças e sorrisos... Pensamentos e tristezas... Palavras e olhares... Um aperto cá dentro mostra-me as meias e a manta mesmo à espera que me enrosque... Nuvens a contraluz. Gata que me beija a mão. Gato que se aninha. Encolho-me no meu canto laranja. Deixo a mente voar para onde não deveria. Deixo o coração bater pelo que não poderia... cinco minutos de nada... emoções de tudo... Nada nas minhas mãos, tudo no pensamento, na mente, na alma, no coração, na memória... Estou aqui e por aqui estarei... no meu canto laranja com luz fim de tarde e cheiro Primavera...
You've got your ball Youve got your chain Tied to me tight tie me up again Whos got their claws In you my friend Into your heart Ill beat again Sweet like candy to my soul Sweet you rock And sweet you roll Lost for you Im so lost for you You come crash into me And I come into you I come into you In a boys dream In a boys dream Touch your lips just so I know In your eyes, love, it glows so Im bare boned and crazy for you When you come crash Into me, baby And I come into you In a boys dream In a boys dream If Ive gone overboard Then Im begging you To forgive me In my haste When Im holding you so girl Close to me Oh and you come crash Into me, baby And I come into you Hike up your skirt a little more And show the world to me Hike up your skirt a little more And show your world to me In a boys dream.. in a boys dream Oh I watch you there Through the window And I stare at you You wear nothing but you Wear it so well Tied up and twisted The way Id like to be For you, for me, come crash Into me
Am in chains you’re in chains too I wear uniforms, you wear uniforms too Am a prisoner, you’re a prisoner too Mr Jailer I have fears you have fear too I will die, you sef go die too Life is beautiful don’t you think so too Mr Jailer Am talking to you jailer Stop calling me a prisoner Let he who is without sin- Be the first to cast the stone Mr Jailer You suppress all my strategy You oppress every part of me What you don’t know, you’re a victim too Mr Jailer You don’t care about my point of view If I die another will work for you So you threat me like a modern slave Mr Jailer You don’t care about my point of view If I die another will work for you So you threat me like a modern slave Mr Jailer If you walking in a market place Don’t throw stones Even if you do you just might hit One of your own Life is not about your policies All the time So you better rearrange your Philosophies and be good to your fellow man jailer I hear my baby say I wan be president I wan chop money From my government What he don’t know Be say Mr Jailer
Disse-lhe para ir... e foi! Subiu 3 andares com a sofreguidão de um ano de espera e ânsia e instigação e contenção...
As pernas tremiam-lhe e não era de cansaço. Sorriu! Corou! Respirou fundo a dar a conhecer o cansaço... ou a disfarçar tudo o resto. Pediu um copo de água. Ajudaria a recuperar o fôlego... ganhar tempo para acalmar os batimentos descompassados e desorientados de um coração que há muito o esperava. Deu-lho. Ao passá-lo para as suas mãos, olharam-se nos olhos. Perto. Cobardemente, baixou os seus e agarrou-se ao copo de água com as duas mãos. Confessou: Estou a tremer... Muito! Riram... Bebeu a água. Apenas dois ou três tragos. Não cabia mais... Estômago cheio de nada... Não aguentava mais aqueles olhos pousados nos tremeliques das suas mãos. O som do copo a bater-lhe nos dentes. O sorriso especado a constatar o nervoso miudinho... Ali ao lado, olharam-se. Perto! Muito perto! Tremiam ambos... Pousou-lhe a cabeça no ombro. Era o primeiro contacto físico que tinham... De imediato se abraçaram. Acariciou-lhe o cabelo. Afastaram-se um pouco. Olharam-se. O primeiro beijo. Tremiam ambos... Pega-lhe na mão e coloca-a no seu peito. O batimento cardíaco era rápido. Forte. Compassado. Nervoso. Os olhares sorriram... Entregaram-se a um prazer adiado demasiadas vezes... Sorriram. Riram. Admiraram. Sussurraram. Brincaram. Gemeram. Gritou... Absorveram-se com o olhar, a boca, as mãos que percorriam cada pedaço de pele. Olhares. Diversos. Intensos. Prolongados. Desafiantes. Agradados. Curiosos. Alegres...
Deixaram-se envolver em gestos e prazeres por tantas vezes imaginados, sonhados, ansiados, adiados... Talvez por isso a intensidade. Mas não deixaram de brincar, de rir, de estar estranhamente à-vontade. A nudez não lhes diminuia a naturalidade. Apesar de ter alguns receios em relação a essa partilha deixou-se ir... deixou-se estar. Nem pensou. Simplesmente voou num prazer por demais desejado. Encaixaram-se uma e outra vez. Sempre de olhos postos. Admirou-lhe um olhar nunca visto. Admirou-se com a estranheza e questionou. Classificou-o! Admirou-o novamente. Provocaram-se mutuamente... Esqueceram o mundo e tudo o que rodeava...
Ofegantes, recostaram-se! Sorriram. Riram. Toques subtis. Meigos mas não intrusos. Doces mas não invasivos. Afinidade? Intimidade? Partilha de coisas comuns. Palavras que se soltam e voam.
Desceu os três andares a saltitar... Quer concerteza tornar! Quer voltar a encaixar, a olhar, a tremer, a corar, a gemer, a acariciar, a beijar, a rir e a sorrir...
Há algo no ar que a obriga a respirar fundo. O ar frio que percorre as narinas quase dói. Nos pulmões é insuficiente. O estômago aparenta vazio quando a luz surge. Percorre-a um arrepio longo, suave, firme. O burburinho permanece. Aumenta, parece! Estremece. Sacode a cabeça em jeito de libertação da energia acumulada. Torce o pescoço para ambos os lados. Estica os braços acima da cabeça. Alonga o tronco de ambos os lados e permite-se descontrair. Quer relaxar. A tensão acumulada nos ombros vê-se à distância na rigidez da posição que adopta por horas a fio. Não queria estar ali. O seu pensamento viaja por um éden desconhecido. Ofusca-lhe o pensamento, a luz que chega duma imagem não realizada. Lê palavras inesperadas e o arrepio percorre-a. Tomada pelo desejo, permite-se sonhar acordada! Partilha. Questiona-se e tenta em vão realizar algo que não é senão emoção. Quem sabe já sentimento. Nega-o com veemência, firmeza, segurança... Nega-o... Mas duvida de si própria. Os arrepios, os sonhos, as luzes, as energias... Assusta-se! Da posição rígida, dá um salto. Um músculo do ombro que fica preso... Dorida, luta em vão por um regresso a uma posição confortável. Não a mesma, a inicial, essa não quer. Já chega! Está farta! Quer outra, mas o corpo entorpecido de horas de inanição está perro. Custa a mexer. Talvez enferrujado. Luta consigo mesma e com cada pedaço do seu corpo. Sabe que não poderá voltar à mesma inanição. Sabe-o, tal como o sabe cada pedaço de pele, cada aroma absorvido, cada olhar partilhado. Sabe-o. É intrínseco. É demasiado interior. Apenas o sabe e pronto. É difícil mexer o estático e estabelecido. É difícil agitar águas estagnadas. Sabe-o! Sente-o! Mas continua a sentir uma dor lancinante. Sente-se presa! Estará coberta de entulho? Soterrada? Será apenas o ar frio que custa a chegar as pulmões? Tem uma vontade inexplicável de saltar da cadeira e correr em direcção à porta. Girar a maçaneta. É daquelas antigas. Redondas. De um bronze gasto, velho. Range. Está pesada, presa. Mas roda. Gira em torno de si mesma até que se ouve um click e a porta fica subitamente leve. Como que empurrada por uma leve brisa, deixa antever um verde pasto, de aromas recheado e sensações à flor da pele. Não consegue correr... Um músculo preso grita de dor. Grita por socorro que não chega, não é suficiente. Sente uma mão firme. Forte. Suave. Macia. Viaja pelo seu corpo ao sabor do desejo e ao ritmo do que sabe que não pode. Abstrai-se de si mesma e observa o prazer oferecido. Recebido. Quer mais... Mais tempo. Mais liberdade. Mais seriedade. Mais firmeza. Mais frequência. Mais certeza! Mais...
Sinto-me pronta! Mais que pronta! Seria já se pudesse... Sinto um misto de nervosismo e curiosidade. Não será a melhor das ocasiões. Não será a melhor das circunstâncias... Sinto-me pronta...
Estou bloqueada num pensamento que não quero ter! Estou num registo que não me queria permitir... Sinto-te a falta! Preciso de ti! Quero-te e desejo-te como não queria admitir. Não é amor, nem sequer paixão... Chamei-lhe tesão. Não te conheço e será por aí a minha necessidade e curiosidade. Bastar-me-ia um vão de escada, um beco escuro... Preciso-te! E não te abdico! Estás intermitente. Estás oscilante! Estás e não estás! Desejas-me mas não me procuras. Provocas-me mas não me sacias. És tu e não te deixas ser... Mostras o que queres mas não to permites. És tu sem o ser. E eu cá estou! Aguardo uma abertura, quem sabe uma loucura, deliro com o prazer que será. Sonho com gritos, gemidos. Possuis-me. Mas faze-lo sem me tocar. Prendes-me a alma. Seguras-me a emoção. Castras-me o desejo e não me deixas voar. Aqui estou expectante e sonhadora. Aqui estou com um desejo que não controlo nem explico... Aqui estou sem me libertar, sem me deixar ir, sem sequer desejar para além do horizonte imediato... Estou presa a ti sem nunca te ter tido. Estou contigo sem te conhecer o sabor. Ouço-te, vejo-te, desejo-te, absorvo-te...
Estou de volta! O sol põe-se por entre as nuvens. O chá é de cidreira. Com mel. Faz vento. Muito! E frio! Tenho a mente vazia e ao mesmo tempo em viagem... No vidro há salpicos da chuva que caiu. Secos! Lá ao fundo as Berlengas. O céu está raiado de tons de laranja, amarelo, vermelho. Caiem bem nos cinzas... Palavras que me chegam. Conceitos que assustam. Impelem. Impedem... Não digo que não! Mas não agora! O agora é só meu! Estou centrada em mim... Egoísta! Quero os meus momentos só para mim. As minhas nostalgias, as minhas viagens através dos sonhos. Os meus sorrisos, as minhas lágrimas. Tudo meu! Há quem me chegue... Há quem me toque! Quem me arranque sorrisos. Quem me faça usar um vestido. Quem repare no meu cabelo novo. Há! Mas é longe, é distante, é quase frio, quem sabe dorido. Penso, e sinto, e falo, e canto, e choro, e grito, e sorrio, e escrevo... A luz do sol que se põe reflecte-se no finzinho das nuvens. No seu contorno. Torna-as brilhantes. Luminosas, bonitas, inspiradoras. A luz interior do Ala Norte começa a notar-se. O mar está revolto. Como eu tanto gosto! Sinto-me assim, mas também quase vazia. Apetecia-me puxar da manta. Mudar a música. Pedir uns biscoitos, mais água quente, mais mel e ficar! Esquecer o que aqui me trouxe, virar para dentro! Não falar, não pensar, não nada...
Ouço! Sussurra-se ao ouvido. Always have to steel my kisses from you... Garanto-te que não me roubarias nada... A não ser de emoção... Estou deslocada! Por veses sinto-me desconfortável. Observada. Apreciada. Estudada. Um pouco invadida até! Estou numa posição muito pouco confortável. Também estás! Eu sei! Tinha uma leve esperança que se repetisse o último cenário. Mas creio que a não repetição terá um significado. Não me agrada, como calculas. A comunicação que flui nos nossos olhares trocados é inimaginável, inexplicável... Deixa-me a tremer. Corro sérios riscos. Sérios riscos de que nada disto acabe bem... De que o meu equilíbrio se esfume no ar, ao sabor e velocidade de um estalar de dedos... Tenho medo! Mas sou incapaz de sair de cena. És-me demasiado especial. És-me demasiado importante. Vejo-te e observo-te com a tua gestão de emoções. Não precisas falar para chegar a mim. Basta um olhar. Dissimulado. Perdido. Rápido. De soslaio. Há que ser discreto. Olhas-me novamente. Fundo. Quase me lês a alma. Se não o fazes é porque não queres... Segues-me com os olhos, acompanhas-me com o pensamento, não me abandonas com a tua memória. Apesar da distância, apesar da fala de proximidade, sinto-te dentro de mim. Da minha cabeça, do meu peito, do meu corpo... Acompanhas-me. Sonho contigo. Acordo! Anseio por um momento adiado por demasiadas vezes... Tenho-te sede. Tenho-te fome. Tenho falta. E esta é a única forma como te tenho...
Há coisas etéreas... funestas... momentâneas. Perdidas no espaço e no tempo, simplesmente são! Existem! Por vezes discretas, suaves, quase imperceptíveis aos sentidos imediatos, vão e vêm e deixam marca... Existem! Marcam! Outras, óbvias, espampanantes, quase chocantes aos olhos de comuns mortais, ficam! Existem! Marcam! Ficam! Momentos, emoções, olhares, toques... Palavras soltas num discurso sem sentido. Sem destino... Apanhadas a meio de um caminho que não é o seu. Descodificadas. Percebidas. Sorrisos! Bem-estar! E há dias que ficam marcados pelos momentos, pelas palavras soltas, pelos toques, pelos olhares, pela recordação do que sabe bem e bem faz sentir... Há dias em que do nada surge um tudo... talvez um tudo nada que nada vale aos olhos de comuns mortais... Percepção! Sintonia! Harmonia de pensamentos! Vontades que se encontram, palavras que se perdem, sorrisos que se chocam, sentidos que despertam, ritmos que se aceleram... Há dias em que se espera o nada e o nada se tem e se vira costas e num último olhar tudo se ganha e tudo se conquista... Há dias em que um segundo dividido em mil muda a rota do Universo e nos faz caminhar por uma estrada esburacada e cheia de curvas e sem berma marcada e com ramos caídos e ravinas perigosas e escura como breu... Há dias em que sorrimos do nada e do nada voamos e voamos sem destino e sem destino nos encontramos... Há dias em que um cheiro nos recorda uma emoção... um toque, uma sensação, um nada, um tudo... Há dias em que não se explica e só se vivencia e não se percebe e só se deixa fluir... Há dias em que preferia ficar quando me instigo a ir... Há dias assim...