quarta-feira, junho 25, 2008

Porquê o amanhã hoje?

O céu estava azul de manhã...
Começava o dia com uma disposição sensacional. Olha a sempre bem disposta, chegou em tom de piropo. Ficou agradada com o comentário. Sorriu.
Tudo corria bem, as contingências não desagradavam... O não planeado, a surpresa, o inesperado agradavam mais que o calculado, o ponderado, o planeado... Gostava de surpresas. Gostava que fossem mais...
O sol brilhava e era Verão.
Ainda mais cedo havia a famosa nebulina. Mística. Com uma luz que quase cega. O reflexo no mar...
Era cedo, muito cedo e já tinha no corpo a sensação de alívio depois de o exercitar, depois de transpirar, depois de expurgar o que era supérfluo... O duche sabia pela vida!!! Deixava-se permanecer debaixo do jacto forte por meros segundos... E viajava... No tempo, no espaço... Pelo corpo.
Mais tarde um cheiro conhecido que se sentiu por acidente. A proximidade não estava calculada. Não era esperada. Arrepiou-se... Lembrou-se do dia anterior. Lembrou-se do que se tinha permitido sentir... Mais do que deixar-se levar pelas emoções, delirava ao deixar-se levar pelas sensações... Os sentidos. O toque, o olhar, um sorriso, o afagar do cabelo, o prazer em cada poro, em cada pedaço de pele, de corpo, de alma, um beijo meigo, outro sôfrego...
Sentia-se bem... mais bem do que feliz... Que isso da felicidade é uma coisa complicada... Será total e completa? Serão momentos? Achava que sim... e dizia-se feliz. A felicidade está nas pequenas coisas, nos momentos, nos sorrisos, nos olhares... nos dias como o de ontem... nos momentos mais simpáticos. Numa gargalhada solta e livre e genuína e verdadeira e esvoaçante... Como gostava de gargalhar! Parecia que rejeitava o que não queria encarar. Porque sofrer por antecipação? Não faz qualquer sentido! Seize the day!!! E o amanhã logo se vê... Como gostava de sentir o coração aos pulos. De retribuir sorrisos. De dizer um piropo vindo do nada... Uma provocação dissimulada em forma de olhar ou toque subtil... Os cenários negros nunca o são assim tanto... Porquê perder tempo a pensar nisso se as sensações à flor da pele lhe provocavam sorrisos e serenidade no fundo do estômago? Porquê pensar no que pode e não pode vir a acontecer, quando o que acontece é tão mais imediato e puro e real e... sente-se na pele... os pêlos eriçam-se...
Amanhã? Amanhã logo chegará... Mas hoje??? Hoje estava lá. E era ali que queria estar, era aquele o aorriso que queria desenhar, era aquele o mimo que queria... Era aquele o momento que queria sorver...
Irresponsável? Talvez... Achava que não. No fundo, sabia que as emoções por vezes voavam alto e levavam a um exacerbar nas palavras... Talvez tivesse exagerado... Foi forte... muito forte o que havia dito. Fruto da emoção do momento, é certo. Não deixava de ser verdade... Mas talvez mais matizado... Não sabia muito bem o que pensava, sentia ou queria... só sabia que gostava das sensações, dos olhares, dos toques, dos sorrisos, das palavras entredentes... de ver o prazer estampado no rosto, de se soltar ao sabor e vontade do prazer alheio... Gostava, estava serena e era feliz...

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