sábado, fevereiro 11, 2006

Qualidade de Vida em Lisboa???

Pegando na dica da Rita Sameiro, não podia deixar escapar esta oportunidade. Já tinha a fervilhar na minha cabeça, algo acerca da qualidade de vida na nossa Capital.
Provavelmente não serei, de todo, a pessoa indicada para escrever sobre tal, já que seria incapaz de viver no centro da cidade. Aliás, foi um pouco no seguimento dessa minha convicção que vim viver para o fim-do-mundo, mas a apenas 5km da praia... Portanto, à partida, digo: não há qualidade de vida que se compare à que encontro neste Concelho de Mafra, mais precisamente nesta freguesia pacata, com terrinhas onde toda a gente (apesar de não me conhecer de lado algum) me diz “Bom Dia!!!”.
Mas depois, começo a pensar noutras coisas que me levam a entender o porquê da escolha de quem decide viver em Lisboa. Em primeiro lugar, é indiscutível, que a grande maioria das pessoas que vivem num raio de 50km à volta da Capital, trabalham na mesna. Ora, aqui começamos a pensar no tempo que se perde no trânsito. Na falta de qualidade das escassas alternativas em termos de transportes públicos, na falta de qualidade das vias que somos obrigados a percorrer, de carro, autocarro ou mesmo a pé... E aqui, começo a entender, princialmente, aquelas pessoas que começam a trabalhar às 8h da madrugada!!! Mas, e quem entra às 9h ou 9h30??? Aí, ainda é pior! Não tenho noção das percentagens, mas arrisco-me a mandar um número para o ar: 60% a 70% das pessoas que trabalham em Lisboa começam a trabalhar entre as 8h30 e as 9h30. O que implica que mais de 60% a 70% do trânsito tenha de ser escoado até essa hora. Bom, aqui então, temos pessoas a sair de casa mais de 1h antes, para fazer um percurso de meia dúzia de kilómetros. Nos bons velhos tempos em que trabalhava nas Amoreiras e morava em Odivelas (e não tinha carta de condução), cheguei a demorar 2h30 para fazer aquele percurso... Um verdadeiro pesadelo, e um aspecto que compromete grandemente a qualidade de vida destas pessoas. Afinal podem acabar por passar cerca de 1/6 do seu dia no stress do trânsito... ou, para os mais interessados, a ler, a escrever ou o que quer que seja que façam, no sossego dos confortáveis bancos de autocarros e metros... ou não...
Bom, convenhamos que entre passar 4 horas por dia a caminho do trabalho ou fazer o percurso a pé, de metro, ou de autocarro, partindo de dentro da própria cidade, demorando apenas 40 minutos por dia... a segunda escolha é bem mais racional, claro...
Mas há mais coisas: ontem, por exemplo, apetecia-me ir ao cinema!!! Estava com uma vontade imensa. Mas não me conseguia despachar a tempo de ir à sessão das 9h. Tinha a alternativa da sessão da meia-noite, mas depois o filme acaba às tantas, e depois o pessoal ainda quer ficar um bocadinho na conversa, e depois ainda tenho 50km pa fazer, e depois, e depois, e depois... Resultado: não fui ao cinema! Claro está que quem escolhe viver em Lisboa não se depara com estes dilemas... Ok, duas boas razões para se viver em Lisboa!!! Já para não falar de toda a informação cultural que flui de forma muito mais acessível que em qualquer outro lado... Teatro, cinema, concertos, exposições. Tudo a um passo de distância. Enquanto eu estou a um passo, mais 50 km. Além de que há determinadas coisas que e passam completamente ao lado.
Mas há mais: sábado de manhã, ataque de consumismo agudo! Saio de casa e dou de caras, com o Mercado da terrinha onde tenho 3 bancadas recheadas de grelos, nabiças, fruta, cenouras... tudo excelente e com sorte, ainda são de agricultura biológica. Para uma vegetariana como eu, isto é muito, mas mesmo muito importante. E foi uma das coisas que me fez sair dos arredores de Lisboa!!! Mas, e o ataque de consumismo??? Conseguirei saná-lo com 1Kg de cebolas, duas cabeças de alhos e um molho de agriões???
Portanto, já temos o tempo que não se perde no trânsito, o facto de termos tudo à porta, e o não termos que nos preocupar com o caminho que nos espera no fim de uma noite tão agradável quanto cansativa e a horas em que já não fazemos mais nada senão pensar no vale dos lençóis...
Bom, mas agora pergunto eu: alguém teve um acordar como eu tive hoje??? O barulho que vem da rua é nulo! Fechando bem o estore, durmo até mais não. Eu, que acordo com o bater de asas de uma mosca!!! Bom, mas acordo quando corpo diz “Já chega!!!” à cama, dirijo-me à cozinha e preparo o pequeno almoço: pãezinhos de Mafra torrados com a bela da manteiguinha, queijo, sumo de laranja biológica, bolinho de côco caseiro comprado no mercado, e café de Manaus acabadiho de fazer. Pego na tabuleiro, dirijo-me à varanda da sala, inundada por um sol maravilhoso, com uma vista até sei lá onde, e uma réstia de cheirinho a mar... Sento-me no cadeirão e aprecio a qualidade de vida!!! Isto sim, vale a pena. É (também) por aquele momento que não me importo de fazer mais de 100 km por dia pa ir trabalhar... Back in Odivelas city seria, um copo de sumo de pacote impregnado de E300, uma torrada de pão de plástico, o café, ok, podia ser o mesmo, mas o ar respirado à janela não tem comparação, nem a vista, nem o barulho e a falta dele. Em Lisboa também não será muito diferente.
Enfim, podia sacar aqui de uma série de argumentos, mas também entendo as escolhas de quem decide fifar pela Capital.
Só por curiosidade: já alguém aterrou na Portela num dia soalheiro, de céu limpo??? Repararam naquela núvem espessa e escura por cima da cidade??? Não chega a Mafra, garanto-vos... Uma das imagens que ficou gravada na minha memoria do tempo em que trabalhei nas Amoreiras, leva-nos a um dia com um tempo não muito bom, mas também não muito mau... Aquela núvem já era costume, portanto o sol não se via nunca, com muita clareza. Estou para atravessar uma rua, quando passam de seguida, um camião de recolha de lixo, um camião das obras, mais velho que eu, e um autocarro de passageiros também por essa idade. Qual dos três soltou mais fumo??? Epá não sei, mas garanto que o concurso foi renhido. Por escassos momentos não consegui respirar, e fiquei o resto do dia com o cheirinho agradável que estão a conseguir imaginar... A tosse perseguiu-me por semanas. Foi nesse dia que disse pela primeira vez que seria incapaz de morar em Lisboa... tinha 19 anos.
Hoje em dia, e depois de ter vivido 5 anos em Braga, acordando de cara para o Bom Jesus, respirando ar puro e com qualidade de vida como nunca tinha conhecido em Odivelas, estou a viver (há muito pouco tempo, é certo) no Concelho de Mafra. Respiro ar puro de cada vez que me chego à varanda e ouço o chilrear dos passarinhos.
Em Lisboa, teria uma casa com metade do espaço e o dobro do preço, respiraria uma coisa apenas ao de leve, parecida com ar, e ouviria 24h por dia motores e buzinas...
Entendo que há uma determinada qualidade de vida em Lisboa, mas ainda não respiro cinema, não como teatro, não ouço o chilrear das lojas mais conhecidas e não me chego à janela para ver a bela vista... do prédio da frente...

6 Comentários:

Às fevereiro 12, 2006 11:41 da tarde , Blogger SOD, o Pérfido disse...

Este blog é um embuste! Desde quando Lx é uma freguesia de Mafra?!...

 
Às fevereiro 13, 2006 11:09 da manhã , Anonymous Anónimo disse...

Sinceramente acho que estás deslumbrada com a vida na "provincia", isto sem desprimor para Mafra que eu também sou provinciana e de mais longe!

Claro que é bom viver com ar puro, restias de cheiro a mar, e com a simpatia das gentes... mas, e quando?!!!

Quando te apetecer: ir ao cinema? ver montras e montras? comer algo exôtico? ou simplesmente perderes-te na multidão?
E quando a novidade acabar, aí na terra, e começarem a comentar a tua vida e os teus hábitos?

Não me interpretes mal, eu adoro viver na minha provincia,de poder andar na rua sem medos até à meia noite mas e depois, quando já tudo se deitou com as galinhas e as luzes da rua não iluminam assim tão bem? Claro que tenho qualidade de vida mas também tenho toda a gente metida na minha vida, a arranjar-me "arranjinhos" e a inventar sobre ela!

Sabes porque é que adoro as cidades? primeiro pelo meu problema crónico da condução, depois porque num instante se está em qualquer lado (pelo menos para alguém como eu que ando a pé por tudo quanto é sitio e a uma grande velocidade)porque existem taxis com taximetros, proque posso ser anonima sempre que quero porque mesmo em Lisboa o sr. do café ao fim de 1 mês já sabe que quando chego de manhã só quero um café; e claro porque são um óptimo "laboratório sociológico"!!!!!

As coisas tem que ser vividas com conta, peso e medida ou como se diz na minha terra, "Nem tanto ao mar, nem tanto à terra"!

Aproveita mas não te deixes perder!!!!!

Beijo

 
Às fevereiro 13, 2006 7:06 da tarde , Blogger Catarina disse...

sod, o pérfido,
não sei em que parte do texto possas ter entendido que eu tivesse dito uma barbaridade dessas... Claro está que Lx não é uma freguesia de Mafra. Nem o contrário sequer... Não disse nada disso, não me interpretes mal.

salomé,
tens toda a razão, minha querida!!! Estou encantada, é um facto. Mas a vantagem de vir pa uma terrinha onde ninguém nunca sequer me pôs os olhos e cima até ao dia em que viu os móveis entrar é que posso gerir o relacionamento com os outros da forma que me aprouver... Se falam de mim nas costas, estou-me marimbando. Se se metem na minha vida, não deixo. Ponto. Claro que se vivesse aqui desde que nasci não tinha, concerteza, o mesmo grau de encantamento. E acredita que sou uma privilegiada!!! Quando me apetece viver Lisboa, fico nos papás... ali apenas a 10 minutos... É simples. Posso gabar-me de ter o melhor de cada um dos ambientes... adaptado ao meu estado de espírito.

 
Às fevereiro 13, 2006 11:23 da tarde , Blogger SOD, o Pérfido disse...

Se reparares bem, no título do blog...

Eu não moro em Lisboa e posso ir a pé para o cinema. Seis ou sete salas à escolha (nem sei bem quantas são).
Oiço alguns aviões, mas vejo as ovelhinhas a pastar e tenho andorinhas a cagarem-me a roupa estendida.

E tenho autoestradas q. b. para fugir para onde quiser ir...

É uma questão de compromisso.

 
Às fevereiro 18, 2006 3:01 da tarde , Blogger Catarina disse...

sod, o pérfido,
o nome do blog já esteve para ser alterado. Mas a seu tempo procedi aos devidos esclarecimentos. Além do mais, surge como resposta a um outro blog, o da minha irmã que é o ines-em-ny. E além da questão de compromisso também há a adicionar as opções, os gostos, as limitações, e toda uma série de factores que influenciam as nossas escolhas.

 
Às maio 30, 2017 11:17 da manhã , Anonymous Vera disse...

Catarina, este post do teu blog já tem mais de 10 anos. COmo pessoa a ponderar deixar Lisboa por Mafra, pensas da mesma maneira? Qual a tua perspectiva à luz destes anos que passaram? Obrigada :)

 

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