quarta-feira, abril 25, 2007

Há dias assim... #24

Começa lá longe e vem-se aproximando lentamente. Também lentamente, a consciência começa a despertar e a identificar cada pequeno som. Ali são as gotas de chuva que caiem sobre o gradeamento e produzem um som metálico. Aqui é a Muqueca na sua higiene matinal. Acolá é provavelmente uma andorinha que se regala com os parcos raios de sol. Aqui é a respiração ainda profunda de quem permanece num estado de semi-adormecimento.
A liberdade é total. Ao sabor da vontade, a respiração assume contornos de quotidiano e ao primeiro piscar de olhos, a luz do dia confirma o que o corpo sentia...
A liberdade é total e o sentimento de que o Mundo é meu, arranca-me o primeiro sorriso. O dia de hoje não tem horas. E é ao sabor da vontade que vou despertando e planeando as diversas actividades para um dia sem horas. Ahhh!!! Se todos os acordares fossem assim...
A liberdade é total e apesar de o dia começar muito devagarinho, a energia que de repente me toma é imensa. O tempo... aquele que não tem nada a ver com as horas e os minutos... O tempo... aquele que não nos suga a energia e rouba boa-disposição... O tempo... aquele tempo que, tímido, sorri lá fora e que em qualquer outra altura me daria um dia encolhido. O tempo que faz lá fora não é dos mais sorridentes, mas o cântico dos pássaros diz-me que é lá fora que se está bem...
O dia começa suave, sem tempo, sem horas, sem minutos, sem preocupações.
Na cozinha há por onde. Há por onde atacar um pequeno-almoço simples mas revigorante, cheio de energia para gastar a seguir... Há por onde optar por um pequeno-almoço mais vitamínico e atacar as frutas da época que se riem para mim... Há por onde me deliciar com um pequeno-almoço mais banal com a bela torrada do pão tentação a aquecer ainda mais a alma que sente uma corrente de ar a lembrar que ainda não é Verão...
Há dias em que a felicidade volta a estar nas coisas simples...
Há dias em que a seneridade de um acordar sossega o espírito e desperta os sentidos para os sorrisos escondidos...
Há dias em que tudo e nada importa e em que o que se quer não desvanece mas não condiciona e não prende os movimentos do espírito que pretende correr livre, sem horas, sem minutos, sem barreiras...
Há dias em que o olhar vê diferente e não aperta o coração...
Há dias em que um sorriso nos faz despertar e percorrer as horas que não importam duma forma que não interessa num contexto que não é determinante...
Há dias em que o dia continua a existir mas corre ali, ali ao lado, numa realidade paralela que logo há-de aparecer mas que até lá não marca presença, não implica com o dedo no ombro a lembrar que está ali, não passa o tempo a olhar para o relógio.
Há dias em que o coração corre e a mente viaja e o corpo vibra e ao som do cantar das andorinhas e ao sabor da maresia e ao colo de um raio de sol nos vamos deixando ir...
Há dias em que o que se sente é fluido e simples e sereno e...
Há dias assim...

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