Há dias assim... #13
Estava bem... As coisas corriam de feição. Não se podia dizer que tudo corria às mil maravilhas, que melhor impossível, mas também não havia do que se queixar.O dia estava óptimo!
Entre uma coisa que estava a fazer e que lhe estava a dar um prazer imenso, ía dando um jeito à casa... sim, porque infelizmente as coisas não se fazem sozinhas. Adoraria poder dar-se ao luxo de pagar a alguém para dar aquele jeito semanal, mas as coisas estavam longe de estar estabilizadas e o dinheiro era necessário para outras coisas, pelo que não lhe restava outro remédio senão tratar do assunto... e mai nada!
Como a preguiça até tem atacado e a coisa se tem arrastado, quando arredou o móvel até se assustou: Não admira que tenha tido uma crise de alergia!!! A dormir ao lado de tão grande monte de pó... Mais o pêlo dos gatos que se agarra qual carraça...
Mas apeteceu-lhe ir até à praia e o resto das limpezas fica pa mais logo... ou pa amanhã... ou sei lá... logo se vê. Não ía concerteza stressar com isso. No meio de tudo o resto ía-se lembrando do que estava por fazer no trabalho: concursos, prazos apertados... ía gerindo... melhor: tentando arrumar uma agenda mental, para conseguir dar conta de tudo.
Foi à praia, adormeceu por uns minutos, tomou uma banhoca, esparramou-se ao sol, voltou a cochilar uns minutos e quando acordou estremunhada com o berro de uma criança, sorriu: "Bela vidinha!!! hehehe Não te podes queixar... Será isto a felicidade?"
A coisa ía fluindo, serena, bonita, com um certo cheiro a felicidade...
Mas há dias em que tal como as coisas podem estar muito bem também podem ficar muito mal. Basta um segundo... um mero segundo e tudo muda. De repente o céu caiu-lhe sobre a cabeça... Aconteceu uma das poucas, senão a única coisa que não podia ter acontecido. Ainda lhe deram a notícia com a maior das naturalidades... como se se tratasse do episódio mais curriqueiro à face da Terra... Mas o céu caiu-lhe em cheio em cima da cabeça.
Depois do choque inicial, reagiu. Chorou. Gritou. E queria pegar no telefone para dizer tudo o que lhe ía na alma. Queria dirigir aqueles berros a alguém. Queria descarregar. Queria que se entendesse o que pensava e o que sentia naquele momento... Mas não. Há dias em que, uma e outra vez ficamos para segundo lugar. Não podia fazer aquilo. Ia magoar. Ia dizer as coisas à bruta. Ia magoar. Não podia... Não podia, porque os outros iam ficar magoados. Não podia porque se calhar não tinham noção do que tinham feito. Não podia porque se calhar a outra pessoa não ia ter a melhor das capacidades para lidar com aquela reacção.
Chorou.
Gritou.
Há dias em que a tempestade se forma em menos de um segundo.
Há dias em que a frustração, o desgosto, a mágoa não são suficientes para descrever o que se sente.
E ela? Como fica ela? Mais uma vez é obrigada a lidar com a situação sozinha, sem reagir... sem berrar com ninguém. Mais uma vez, os outros poderiam não ter as forças para lidar com o assunto, mas ela foi obrigada a encontrá-las... Chorou. Gritou...
A ferida mal sarada voltou a sangrar...
Será que algum dia isto terá fim???
Há dias em que a incapacidade para lidar com os sentimentos alheios não deveria condicionar nada nem ninguém... E ela? Como fica ela no meio disto tudo? Porque é que mais uma vez tem que ficar para segundo plano? Porque é que mais uma vez pensa primeiro no sofrimento que poupa aos outros e engole o seu próprio?
Há dias em que apetece desligar o botão e voltar a ligar mais tarde... já noutro filme. Noutro cenário. Com outros papéis, outros interveientes...
Há dias em que o passado parece estender-se até ao futuro mais longínquo.
Há dias em que o que passou não passou... e as águas passadas movem moinhos.
Há dias em que o Mundo não é a concha dela...
Há dias em que a concha se fecha e lá dentro está ela... só. Apenas ela. Só ela. E parece-lhe que ninguem entende o que sente.
Há dias em que lhe apetece escancarar a boca e gritar ao Mundo a sua lágrima...
Há dias em que os amigos estão à distância de um telefonema... mas optou por lhes poupar este sofrimento...
Há dias em que tem que chorar sozinha e dormir sobre o asunto na esperança que o novo dia traga um sol luminoso capaz de lhe arrancar um sorriso.
Há dias assim...
Etiquetas: Há dias assim...
5 Comentários:
Mais Rápido que Terapia
Capitulo 5 - pág 101
"Não espere que os Outros pensem como Você"
"Não é verdade que grande parte da nossa frustração está relacionada com a nossa falta de compreensão em relação ao motivo por que as outras pessoas comportam assim?
(...)
Discutir continuamente as vossas diferenças, qualquer que seja a diferença especifica ou quão relevante pareça ser, apenas assegurará que você sentirá os efeitos desses pensamentos, que invariavelmente serão negativos. E uma vez que se esteja a sentir negativo, irá estar ainda mais inclinado a culpar as suas diferenças peça maneira como se está a sentir. É um ciclo negativo sem fim.
O caminho mais eficaz e directo é, primeiro, recuperar um sentimento mais pacifico dentro de si, através da compreensão da natureza e da inocência das diferenças fazendo-as parecer menos significativas e mais fáceis de discutir."
mary,
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