sexta-feira, setembro 19, 2008

Uma caneta...

Escorregava papel afora uma caneta de tinta fina. Podia ser carvão, como de costume, mas foi a 1ª que apareceu e a urgência de fluir não permitiu escolha. Revelou-se surpreendentemente suave. Macia. Quase doce. Seria incapaz de deixar que a sua tinta desenhasse palavras amargas. Foi escorregando. As letras também, maiores que de costume. Mais abertas. Mais alegres. Talvez até mais expressivas. Não pensava. Simplesmente se deixava guiar pelos movimentos de um pulso firme, talvez cansaço. Mas sempre escorregando. A tinta, fina, era também acetinada. Não borrava. Saía na medida certa, no momento certo. Parecia saber o fluxo que se lhe exigia, a intensidade, o quando, o porquê e o como. Saberia certamente continuar a escorregar suave e docemente. Sem hesitações, sem borrões, sem tropeções. Simplesmente escorregando, preenchendo uma folha que já havia sido vazia, oca, lisa, sem desenho ou forma, sem conteúdo ou mensagem. Formava arabescos mais ou menos perceptíveis. Mais ou menos desafiantes; mais ou menos estimulantes. Foi-se deixando escorregar. Fazendo desenhos numa folha vazia. Enchendo de tinta fina, fluída, suave, doce, serena, aquela que outrora teria sido um poço oco, um vácuo sem luz e côr...

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